Quem vê a expansão da língua inglesa ao redor do mundo, sobretudo nos
últimos 50 anos, pode não acreditar que a língua mais usada em
transações comerciais hoje era falada por apenas algumas tribos
germânicas no século 5 d.C.
Conhecer um pouco da origem das línguas significa entrar em contato com
a história da humanidade, com as disputas políticas que marcam essa
história e que revelam a alternância de poder entre tribos, povos e
nações.
Essa alternância de poder pode ter resultado em imposições da língua de
um povo a outros povos ou, ainda, em influências de uma cultura sobre
outra por um determinado período. A língua que usamos hoje para nos
comunicar é fruto desse movimento, desse contato entre os homens e de
como se deram as relações sociais ao longo da história.
Influências variadas
A língua inglesa nasceu no atual território da Grã-Bretanha, uma terra
amplamente desejada e invadida por povos diversos, o que resultou na
multiplicidade de suas origens e de influências variadas. É considerada
língua germânico ocidental, mas esteve sob influência latina e
escandinava e, depois, normanda e francesa.
Os romanos deixaram a Grã-Bretanha em 410 e os primeiros anglo-saxões
desembarcaram no ano 449. Foram os saxões os responsáveis por
introduzirem no inglês os primeiros elementos do vocabulário latino.
Isso porque esses povos germânicos haviam entrado em contato com os
Romanos antes de abandonarem o continente e já haviam incorporado
vocábulos latinos às suas línguas.
Marcas do latim
É fácil identificar as marcas de origem latina na língua inglesa.
Encontramos ainda no inglês atual: copper (cobre) do latim cuprum
(cobre), street (rua) do latim strata (via), dish (prato) do latim
discus (disco, travessa), entre outros. Mas apenas as cidades se
constituíram em focos de latinização, permanecendo os povos residentes
no campo pouco suscetíveis ao contato com a cultura romana.
Um dos capítulos das sucessivas invasões da Bretanha e das influências
deixadas na língua inglesa pelos povos invasores deve ser dedicado aos
celtas. O povo celta é de origem indo-germânico. Saiu do Centro-Sul da
Europa em ondas sucessivas e se espalhou por regiões da Espanha, Itália,
Bretanha, Mar Negro, Balcãs e Ásia Menor. Na Bretanha, as pesquisas
sugerem que eles ocuparam os vales, as terras mais férteis enquanto que
os Bretões se instalam em lugares menos hospitaleiros, pantanosos ou
mais elevados.
Resistência aos elementos celtas
Tanto em relação aos Bretões como em relação aos Saxões (povo de origem
germânica que habitava a Saxônia, região da Alemanha entre o rio Reno e
o mar Báltico, e que invadiu as terras da Grã-Bretanha), é muito
provável que os celtas tenham se mantido distantes, por dificuldade de
comunicação. Houve, e isso é o que se sabe, uma resistência
significativa da língua inglesa em integrar elementos celtas, o que se
verifica no pequeno número de palavras célticas antigas no inglês.
A ausência de interlocução entre celtas e saxões é evidente e pode ser
notada por meio do uso das palavras. O termo saxão para designar os
celtas, por exemplo, era Wealas (os "estrangeiros"). Esse termo deu
origem à palavra Welsh por meio da qual, em inglês, hoje se designa os
galeses. Os celtas, por sua vez, chamavam a todos os seus inimigos de
saxões.
Escandinavos, provenientes da Dinamarca e da Noruega, começaram a fazer
incursões à Bretanha no final do século 8, onde se juntaram e se
misturaram com os povos de língua anglo-saxônica, ora de forma pacífica,
ora violenta durante dois séculos. Por suas línguas contarem com uma
origem comum (germânica), houve grande compreensão entre os povos e as
influências mútuas são bastante evidentes até o ponto de alguns
pesquisadores considerarem que houve uma fusão delas. O fato da 2ª
pessoa do verbo "ser" (are) ser de origem escandinava pode
indicar a fusão, na medida em que não eram partilhados apenas vocábulos,
mas também formas gramaticais.
Nobreza da França
Em 1066, Guilherme, o Normando, venceu o rei dos Saxões e se tornou rei
da Inglaterra. Instalou sua corte e distribuiu terras entre os nobres
provenientes da França. Assim, o inglês foi afastado da corte em favor
da língua francesa. Como o latim continuava a ser a língua dos eruditos,
três línguas se encontravam presentes no território inglês. O uso
dessas línguas delineava as camadas sociais: o latim era a língua do
saber e da escrita, o francês (na verdade, a língua normanda e não o
francês propriamente dito) era falado pelo grupo social dirigente e o
inglês era a língua das camadas sociais mais baixas.
O francês falado na Inglaterra nos tempos da conquista normanda era
muito especial e era denominado anglo-normando. Dessa língua, floresceu
uma literatura muito particular, sobretudo nos reinados de Henrique 2o e Henrique 3o, da dinastia Plantageneta.
Celina Bruniera, Especial para a Página 3
Pedagogia & Comunicação é mestre em Sociologia da Educação pela USP
e assessora educacional para a área de linguagem.